Neurose
O termo neurose designa uma série de problemas mentais caracterizados pelas grandes dificuldades sentidas pelo paciente em se adaptar ao meio que o rodeia, sem perder, contudo, a noção da realidade.
Conceitos e causas
Os
problemas psíquicos podem ser classificados em dois grandes grupos: as
psicoses e as neuroses. Em caso de psicose, um problema mental muito
grave provavelmente provocado por alterações orgânicas cerebrais ainda
não identificadas, o paciente perde o sentido da realidade e a sua
personalidade encontra-se desorganizada, como acontece, por exemplo, em
caso de esquizofrenia. No caso da neurose, um problema psíquico de menor
gravidade, o paciente não perde o sentido da realidade e a sua
personalidade não se encontra desorganizada. Para além disso, os sinais e
sintomas psíquicos e físicos manifestados durante as neuroses não
costumam ser provocados por alterações orgânicas, mas pela lesão interna
provocada pelos conflitos que o indivíduo irá encontrar até se adaptar
ao meio que o rodeia.A neurose costuma afetar indivíduos com uma
personalidade predisponente, o que favorece uma tendência para negar a
realidade e para resistir a ela. Por outro lado, a educação e as
características culturais do meio também desempenham um papel muito
importante no desenvolvimento de uma neurose, pois contribuem de forma
decisiva para moldar a personalidade, podendo acentuar,
consequentemente, os traços neuróticos do indivíduo. Para além disso, a
neurose pode ser desencadeada ou agravada pelo aparecimento de
circunstâncias que, por serem estressantes ou conflituosas, podem
acentuar ainda mais os traços neuróticos do indivíduo. Existem vários
tipos de neurose consoante os traços da personalidade e as manifestações
características. Os mais significativos são provocados pelas
perturbações de ansiedade ou pelas neuroses de angústia, anteriormente
referidas - a neurose histérica e a neurose obsessiva.
Neurose histérica
A neurose histérica, ou simplesmente histeria,
caracteriza-se pela existência de alterações transitórias da
consciência, tais como períodos de amnésia ou perda de memória, e por
diversas manifestações sensitivas ou motoras, igualmente passageiras e
perturbadoras, tais como tiques, perda da sensibilidade cutânea,
paralisia dos membros, cegueira ou convulsões.O problema, muito
mais frequente nas mulheres do que nos homens, costuma afetar pessoas
com personalidade histérica, ou seja, uma personalidade caracterizada
por uma forte tendência para ser o centro das atenções, para seduzir e
sensualizar as reações afetivas e sociais, teatralizar os conflitos e
manipular ou confundir a realidade. Um outro traço importante deste tipo
de personalidade é um evidente poder de autossugestão, o que torna
estes indivíduos vulneráveis e dependentes nas relações pessoais,
podendo perturbar-lhes as suas percepções sensoriais.Por outro
lado, do ponto de vista psicológico, considera-se que a histeria possa
ser provocada por conflitos vividos ao longo da infância, os quais
tenham sido reprimidos e posteriormente esquecidos, mas que são, alguns
anos mais tarde, inconscientemente ativados perante determinadas
situações. De acordo com esta perspectiva, estas manifestações também
poderiam provocar um efeito secundário benéfico ao paciente, pois desta
forma poderiam conseguir iludir certas responsabilidades ou receber mais
atenção das pessoas que o rodeiam.
Manifestações
A histeria permite vários tipos de manifestações psíquicas e físicas
que se costumam evidenciar sob a forma de episódios passageiros. As
manifestações mentais mais comuns são os episódios denominados acidentes
psíquicos, de perdas da memória de uma determinada época da vida, de
situações de multiplicação da personalidade, de estados de sonambulismo,
de crises de perda da consciência e de alucinações. As manifestações
físicas, sob a forma de episódios designados acidentes somáticos, podem afetar o funcionamento de todos os órgãos ou sistemas e correspondem a fenômenos tão diferentes como perdas da mobilidade ou contraturas
musculares de um membro, crises de dor abdominal, estados de cegueira
passageira ou perdas da sensibilidade cutânea.
Evolução
Embora a personalidade histérica seja crônica, por definição, a neurose
histérica não se costuma prolongar por muitos anos, exceto nalguns
casos em que predominam as manifestações físicas.
Neurose obsessiva
A
neurose obsessiva caracteriza-se pela presença e persistência de uma
série de ideias fixas e obsessivas, receios injustificados e atos
compulsivos que, em conjunto, se tornam irracionais, constantes e muito
difíceis de controlar. Este tipo de neurose, mais frequente nos homens,
costuma afetar indivíduos com uma personalidade obsessiva,
caracterizada por uma grande propensão para questionar as coisas, por
grande insegurança pessoal e pelo recurso a várias superstições. Para
além disso, constatou-se que uma educação em que se valoriza em excesso a
moral, a ordem e a higiene também pode constituir uma predisposição ao
provocar o desenvolvimento de um forte sentimento de culpa. Por outro
lado, a doença é frequentemente desencadeada por conflitos afetivos,
sociais ou profissionais que acentuem o caráter obsessivo do indivíduo.
Manifestações.
É possível distinguir três tipos de manifestações.
- Ideias obsessivas
- Receios obsessivos
- Atos compulsivos
Ideias Obsessivas
As ideias obsessivas
caracterizam-se por serem injustificadas, constantes e atormentadoras. O
conteúdo é muito variável: temas religiosos, de natureza física ou
espiritual, metafísicos, a preocupação pela proporção e ordem das
coisas, o decorrer do tempo... Em qualquer caso, o que mais sobressai
nestas ideias é a predominância da dúvida em detrimento das respostas e
soluções práticas.
Receios Obsessivos
Os receios obsessivos,
igualmente injustificados e persistentes, podem manifestar-se após
qualquer situação interpretada como sinal de mau augúrio, como é o caso
de uma pequena ferida que pode infectar, agravar, provocar uma doença
grave, pôr em perigo a vida...
Atos Compulsivos
Os atos compulsivos
consistem em rituais complexos, elaborados e supersticiosos, realizados
com o intuito de prevenir situações de perigo, e consistem em
excessivas verificações, em lavar as mãos com uma frequência exagerada
ou realizar sistematicamente vários gestos ao passar por um determinado
sítio.
Evolução
Caso as
manifestações sejam ligeiras e desencadeadas por circunstâncias
pontuais, o prognóstico costuma ser favorável. Por outro lado, quando as
ideias, receios e atos obsessivos são intensos, podem captar toda a
energia do paciente, perturbando progressivamente a realidade pessoal.
Informações adicionais
Tratamento
A
forma de tratamento, a médio prazo, mais utilizada é a psicoterapia,
adaptada às necessidades específicas de cada caso, de modo a que o
paciente possa enfrentar de forma eficaz os conflitos com o meio que o
rodeia. Caso a gravidade das manifestações o aconselhem, deve-se
recorrer, ao mesmo tempo, à administração de medicamentos
tranquilizantes ou antidepressivos durante determinado período de tempo
ou com alguma periodicidade. Em alguns casos graves de neurose, é
necessário proceder à hospitalização do paciente, com vista a atenuar as
suas manifestações ou prevenir situações de risco, como acontece, por
exemplo, perante as típicas ameaças ou tentativas de suicídio da
histeria.
Fonte : Medipédia - Conteúdos e Serviços em Saúde. Neurose. Disponível em: <https://www.medipedia.pt/home/home.php?module=artigoEnc&id=345> Acesso em: 30 de outubro de 2018.